quinta-feira





salta! salta!..
faz-te estrela no meu céu...
não pares de brilhar...

A manhã

Assim, devagar... ao som da brisa, azul, nuvens cinzentas num dia de sol. Cinzentas? talvez. Não as vejo. Uma pétala molhada. No chão orvalhado penetra-me nos ossos o frio da manhã. Ao longe. Na névoa, esconde-se de mim o bosque onde por vezes me perco. Daqui a pouco estarei de novo com ele, por entre folhas e ramos hei-de perder-me de novo. No correr dos pássaros, no cantar da água, no tilintar cristalino da manhã... O estômago aperta-me, não tenho fome. Nem sequer sede. Sacio-me do perfume leve que me rodeia. A manhã já foi. O sol já levantou. Retenho em mim todo o seu calor. Aguardo... devagar, o cair do dia que me trará a noite. E me dará de novo a névoa fria desta manhã.

sábado

Sentado










Sentado,
olho pela janela o mundo passar.
Na mesa,
bosquejos soltos de um futuro incerto.
Não oiço nada.
O telefone já não toca.
A máquina deixou de bater.
Nesse silêncio lunar,
contemplo o rosto iluminado
desse teu corpo adormecido,
que guardo junto ao peito...

sexta-feira

O tempo












quanto tempo tem o tempo
que passa devagar
quanto tempo tem o tempo
que corre sem parar
quanto tempo tem o tempo
que falta para te olhar

sábado

Um pingo de cor
numa noite escura
rasgos de dor
agora ternura
uma melodia serena
murmurando ao ouvido
uma mão terna
um novo sentido
frio que se foi
em calor se tornou
vieste para ficar
e eu, não me vou

domingo






Voa leve pequenina
onde a brisa te levar...

sábado

Viagem










Nota-se muito?
Espero que não...
uma noite mal dormida,
uma qualquer alergia,
talvez uma insolação...
lágrimas não.
Essas, guardei-as para mim.

domingo

em ti...


Onde estás que não te encontro...
Onde estás que te não vejo...
Sinto-te em mim...
Sinto-me em ti...
Onde estás...
Que me perdi...
Perdi-me na imensidão...
Perdi-me na mansidão...
Perdi-me no calor...
no sabor...
do teu beijo...
Perdi-me em ti...
Perdeste-te em mim...
em ti...
em mim...
Encontrei-me...
em nós...
Encontrei-te...
escuro, frio, vazio... um toque leve, uma fresta de luz tímida... o olhar perdido... o ranger, a luminosidade apoderando-se... espreitando a medo... entrando de rompante... rendo-me prostrado... tomando-me sem pudor... inflamo na luz... Estás aqui!... contraio-me num desriso... agarrando-me com vigor... pequeno em mim... apertando-me calorosa... rendo-me a ti...

sábado

"Tu és o nó de sangue que me sufoca.
Dormes na minha insónia como o aroma entre os tendões
da madeira fria. És uma faca cravada na minha
vida secreta. E como estrelas
duplas
consanguíneas, luzimos de um para o outro
nas trevas."


Herberto Helder, in 'PHOTOMATON & VOX'

Takk...

dá-me a mão...


fechado em mim liberto apenas a contracção muscular que me faz esboçar o chamado sorriso... incapaz de qualquer outra forma de expressão sorrio... sorrio a todos os que me tocam...
sorrio a todos os que não me sentem... sorrio pela alegria de um olhar... sorrio pela sua triste ausência...
sorrio... talvez por não saber sentir... se o sei, por não o saber mostrar... se o mostro... por ninguém se importar... sorrio simplesmente... por não saber chorar...
a cada dia olho no espelho o meu rosto... a cada dia um pouco deste sorriso vai ficando lá... a cada dia vou perdendo o último vestígio de emoção... a cada dia vou-me tornando tela vazia perdida no sótão de um qualquer pintor...

quinta-feira


olhando o infinito ganho coragem...
para dar o passo em frente...
para dar o salto...
o passo que me tornará livre...
o salto que me fará voar...
sem parar... até...
amedrontado recuo...
receio o desconhecido...
tenho medo de voar...
medo de não conseguir...
tenho medo de cair...

sexta-feira

abismo

Sinto que te estou a perder...
foges-me entrededos, não te consigo segurar...
procuro um sentido, uma razão... não percebo...
talvez não queira perceber... estás tão longe...
como gostava de te encontrar...
atar-te, e não mais te deixar escapar...
não mais te deixar fugir...
jamais te deixar cair...

segunda-feira

Está escuro...
não vejo nada...
grito por alguém...
não ouço eco...
resposta... nada...
procuro o chão...
corro desorientado...
e por fim... nada...
paro...
sinto-me a cair...
acordo assustado...
olho em volta...
está escuro....
não vejo nada...

sexta-feira


"Por que foi que
cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a
razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não
cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos
que, vendo, não vêem."

in Ensaio Sobre a Cegueira
"The most important kind of freedom is to be what you really are.
You trade in your reality for a role. You give up your ability to feel,
and in exchange, put on a mask."
Jim Morrison

quinta-feira

o outro lado

You know the day destroys the night
Night divides the day
Tried to run
Tried to hide
Break on through to the other side

We chased our pleasures here
Dug our treasures there
But can you still recall
The time we cried
Break on through to the other side

I found an island in your arms
A country in your eyes
Arms that chain us
Eyes that lied
Break on through to the other side

Made the scene from week to week
Day to day, hour to hour
The gate is straight
Deep and wide
Break on through to the other side